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Teoria U: liderança a partir do propósito para o futuro que queremos viver

A Teoria U engloba uma série de ferramentas que, através da reflexão pessoal, de práticas relacionais e de tecnologias sociais, visam uma mudança pessoal e comunitária advinda do contato pleno com o mundo, com as pessoas que nos cercam e conosco mesmos – ou seja, com um propósito maior.

Por Maria Angélica Rente

Se quisermos que nosso mundo perdure, ele precisa mudar. E os agentes desta mudança somos, necessariamente, nós mesmos. Otto Scharmer, economista, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), fundador do Presencing Institute e principal sistematizador da Teoria U, refere-se ao momento que vivemos como a Era da Desestabilização. Desastres climáticos, fundamentalismo, escassez de recursos, desigualdade social, tudo isto pode fazer que a vida no planeta não sobreviva num futuro muito próximo. Ao mesmo tempo, abre campo para infinitas novas possibilidades de transformação, resignificação, renovação e coexistência.

A grande questão que Scharmer apresenta é que todos os sistemas atuais – saúde, finanças, educação, etc – se caracterizam pelo fato de que, coletivamente, estamos criando resultados que não queremos. Isto ocorre porque operamos a partir de paradigmas de pensamento obsoletos, que embasam nossos comportamentos, crenças e atitudes, perpetuando uma realidade que não condiz ao futuro que quer emergir. Abaixo do nível visível dos eventos e crises que enfrentamos, tanto no nível pessoal quanto nos sociais, mundiais e sistêmicos, há estruturas e paradigmas de pensamento subjacentes que são responsáveis por criá-los e que nem sempre enxergamos. Ao ignorar estas estruturas e paradigmas, os mesmos padrões se repetem indefinidamente, reproduzindo modos de lidar com estes desafios que, já sabemos, trazem resultados ineficazes.

A Teoria U oferece um método que permite que pessoas, grupos e organizações suspendam estes modos habituais e quase sempre automatizados de estarmos no mundo e de interagirmos com ele, proporcionando a conexão com fontes mais profundas e sistêmicas de sabedoria e criatividade e possibilitando a exploração do futuro que queremos criar por meio da prototipação rápida. Ela engloba uma série de ferramentas que, através da reflexão pessoal, de práticas relacionais e de tecnologias sociais, visam uma mudança pessoal e comunitária advinda do contato pleno com o mundo, com as pessoas que nos cercam e conosco mesmos – ou seja, com um propósito maior.

Estes recursos têm por objetivo proporcionar o que Scharmer chama de “uma jornada da conscientização egossistêmica para a ecossistêmica”. Ou seja, de um modelo que prioriza o individualismo para outro que inclua a coletividade e se preocupe com o bem-estar do todo. Para tanto, é necessário se ter claro que os resultados produzidos por um sistema dependem da qualidade da conscientização dos participantes que o operam. Scharmer, em seu livro Liderar a Partir do Futuro que Emerge: a evolução do sistema econômico ego-cêntrico para o eco-cêntrico (Editora Campus), afirma que “Não podemos transformar o comportamento de sistemas enquanto não mudarmos a qualidade da atenção que as pessoas dedicam às ações que realizam nesses sistemas, tanto individual quanto coletivamente”. Esta qualidade de atenção modificada tem o nome de Presença (Presencing, em inglês). Este conceito relaciona-se à percepção profunda e à subsequente concretização dos potenciais pessoais em conexão com o futuro que deseja emergir. A presença é o último dos quatro níveis de conscientização sistematizados pela teoria e, para atingi-lo, é necessário passar pelos três níveis anteriores e integrá-los. O primeiro é o downloading, no qual operamos a partir dos nossos padrões habituais e conhecidos, reafirmando nossas crenças e convicções; o segundo, a escuta factual, enfatiza as diferenças e atenta-se às contradições, sendo a base do pensamento científico; o terceiro nível é a escuta empática, que proporciona uma conexão emocional e o reconhecimento do outro como alguém semelhante a mim. Ao atingirmos o último nível, a presença, existe um foco de atenção ampliado e um estado intenso de conexão consigo mesmo, com o mundo externo e com as potencialidades que se apresentam.

Finalmente, é interessante notarmos que a teoria U empresta seu nome do “desenho” da jornada de conscientização proposta por ela. Primeiro há uma “descida através do U”, durante a qual a observação atenta com suspensão dos julgamentos leva a uma abertura de mente, coração e vontade. Ao chegar à parte de baixo do U, onde ocorre um processo de interiorização intenso e de contato com fontes profundas de sabedoria, se cruza um portal onde o antigo é abandonado e o novo pode, finalmente, se manifestar de imediato, na “subida do U”, através de ações que exploram o futuro através do fazer, de protótipos rápidos e espontâneos e da iteração constante, com base nos feedbacks recebidos dos stakeholders envolvidos.

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Sobre o Autor 

Angelica-Rente

Maria Angélica Rente é psicoterapeuta gestáltica, coach sistêmica e especialista em arteterapia. Coordenadora de grupos na abordagem fenomenológica, facilita grupos e processos utilizando recursos como Processos Circulares, Teoria U, Danças Circulares,  Arte, Design Thinking e Dragon Dreaming. Pesquisadora em Comunicação Não-Violenta, Sistemas Restaurativos e Teorias Sistêmicas.

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